26
MULHERES E CREANÇAS

apotheose da mulher divinisada pelo christianismo, aureolada por aquella poesia artificial, exageradamente requintada e platonica dos trovadores da Edade media, e aquella abnegação amorosa e idealista dos paladinos da cruz!

Essa transformação radical no destino da mulher fez sentir a sua influencia até hoje, em phases e gradações successivas e diversas.

Á castellã de repente acordada do seu lethargo mental, pela tiorba namorada do pagem, ou pela supplica ardente do cavalleiro, succedeu a rainha das côrtes de amor, a que erigia em dogma ideal o adulterio, a que proclamava em sentenças preciosas a quebra de todos os laços da familia, a que via no amor requintado, falsamente seraphico, um direito superior a todos os direitos e deveres domesticos. Veio depois a gentil pagã da Renascença, a inspiradora dos artistas, a amante dos papas, a musa dos loucos poetas, a princeza dos festins, erudita, apaixonada, intelligente, cheia de phantasias superiores, que se era virtuosa se chamava Victoria Colonna, e se era dissoluta se chamava Lucrecia Borgia.

A esta que correspondia ao seu meio social, que cumpria uma missão civilisadora, que tinha o seu destino marcado, e a sua orbita descripta succedeu a mulher de sala do seculo XVII e do seculo XVIII, de que