MULHERES E CREANÇAS
69

Como a adoravam, como a detestavam ferozmente aquelles homens e aquellas mulheres!

Cada olhar tinha a agudeza de uma lamina de aço!

Traspassavam-n’a, feriam-n’a, beijavam-n’a aquellas mudas caricias insolentes, e aquelles odios violentos e felinos!

E a consciencia da sua formosura, da sua soberania omnipotente, do seu prestigio invencivel, fazia-a vibrar toda como ao contacto de uma pilha.

Sentia-se rainha. Tinha ditos graciosos, tinha repentes felizes, tinha epigrammas implacaveis, coquettismos crueis; era espirituosa, era bella, era triumphante!

A casa, os filhos pequeninos, o marido, os livros, que são tão bons companheiros da honestidade e da modestia, onde ficara tudo isso? Nas brumas indecisas de um passado que ella não queria ver.

Oh! que intensidade de vida n’estas horas!

Era só pensando n’ellas que vivera. Para que havia de lêr, para que havia de instruir-se, para que havia de ir perguntar á natureza muda, o segredo de todas as suas riquezas, para ella inuteis e desdenhadas?

Era feliz porque era admirada.