64 NEGRINHA

proximou-se. lenta. com passos de automato, e sentou-se, baixando a cabeça. Confesso que esfriei. A escuridão da alcova, o ar diabolico do urutú, aquella morta-viva morre-morrendo a meu lado, tudo se conjugava para arrepiar-me as carnes num calafrio de pavor. Em campo aberto não sou medroso — ao sol, em luta franca, onde vale a faca ou o 32. Mas escureceu ? Entrou em scena o mysterio? Ah !—bambeio de pernas e tremo que nem mulher nervosa ! Foi assim naquelle dia...

Mal sentou-se a morta-viva, o marido, sorrindo, empurrou para o seu lado o prato mysterioso e destampou-o amavelmente. Dentro havia um petisco preto que não pude identificar. A mulher, ao vel-o, estremeceu, como horrorizada.

— "Sirva-se !" disse o marido.

Não sei porque, mas esse convite revia uma tal crueza que me cortou a alma como navalha de gelo. Presenti um horror de tragedia. dessas horrorosas tragedias familiares, vividas