66 NEGRINHA

aquelle lampejo de esperança, o derradeiro, talvez, que lhe brilhou nos olhos, apagou-se num lancinante cerrar de palpebras. Os tiques nervosos diminuiram de frequencia, cessaram. A cabeça descaiu-lhe de novo para o seio, e a morta-viva, revivida um momento, reentrou na morte lenta do seu marasmo somnambulico. Emquanto isso, o urutú espiava-nos de esguelha, e ria-se por dentro, venenosamente...

Que jantar ! Verdadeira cerimonia funebre transcorrida num escuro carcere da Inquisição. Nem sei como digeri aquelles feijões !


A sala tinha tres portas, uma abrindo para a cozinha, outra para a sala de espera, e terceira para a dispensa. Com os olhos já affeitos á escuridade eu divisava melhor as coisas, e, emquanto aguardavamos o café, corri-os pelas paredes, pelos moveis, distrahidamente. Depois, como a porta da dispensa estivesse entreaberta, enfiei-os por ella a dentro. Vi lá umas brancuras pelo chão — saccos de mantimento — e, pendurado a um gancho, uma coisa preta que