76 NEGRINHA


Verdadeiro poeta, o bom Timotheo—não desses que fazem versos, mas do que sentem a poesia subtil das coisas. Compuzera, sem o saber, um maravilhoso poema, onde cada plantinha era um verso que só elle sabia, verso vivo—risonho ao reflorir annual da primavera, desmedrado e soffredor quando Junho sibilava no ar os laregos do frio. Memoria da casa, naquelle jardim tudo correspondia a uma significação familiar, de suave encanto, e assim foi desd'o começo, ao riscarem-se os canteiros na terra virgem, rescendente a escavação. O canteiro principal consagrára-o Timotheo ao "Sinhô velho", tronco da estirpe e generoso amigo que lhe déra carta d'alforria muito antes da lei aurea. Nasceu faceiro e bonito, cercado de tijolos novos, recem-vindos do forno para alli inda quentes, e embutidos no chão como rude cingulo de coral; hoje esses tijolos, semi-desfeitos pela usura do tempo e tão doceis que a unha os penetra, esverdejam no debrum sombrio dos verdes musgos da velhice.