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NO TEMPO DE WENCESLÁO...

de elegancia moral. A bondade, a gratidão e os outros sentimentos generosos não são senão at­titudes elegantes do espirito. Não se póde exigir de um palafreneiro ou de um caixeiro viajante, mesmo aposentado, taes gentilezas que em nada modificam a vida. Deixe, pois, que o cumpri­mente e que me apresente. Chamo-me Justino Pereira...

—Muito prazer...

—Pelo que lhe deve ter contado o pobre ho­mem que lá em cima dirige a opinião, não posso parecer aos seus olhos senão um cava­lheiro imprevisto e mais ou menos maluco. Ora, eu só posso parecer doido no vasto hospicio em que está transformado o Brasil, graças ao phenomeno collectivo e alarmante da menopau­sa economica. Atravessamos a crise do analphabetismo agudo, da neurasthenia, da incom­petencia e da furia do pernosticismo. E, coisa curiosa! esse phenomeno ataca apenas as clas­ses dirigentes. O Brasil não mudou. A indole do brasileiro também não mudou. A capacidade de comprehender, trabalhar e seguir não va­riou. As condições de cohesão das diversas clas­ses persistem. O sentimento patriotico, quer na sua feição egoistica de triumpho, quer sob o aspecto altruistico do sacrifício, é sem limite.

Grave erro seria dizer que o Brasil se trans­formou na pan-beócia. Para conhecer um povo não basta consultar o appetite das algibeiras ou das pretensões e berrar descomposturas pa­-