como cego, deixando a luz pelas trevas; pequei, como louco, trocando pelo temporal o eterno; e pequei, como barbaro, antepondo a criatura á divindade.
Mas peza-me, meu Deos, de tão lastimosa cegueira; peza-me na alma de tão perversa loucura; peza-me quanto posso de toda a minha miseria. E não tanto, meu Deos, não me peza tanto das minhas culpas pelo temor das penas, tantas vezes merecidas, quanto me peza, e me penetra a alma a consideração de haver offendido a vossa bondade immensa, primeira causa de todo o meu ser e unica fonte de todo o meu bem; sendo sempre digna sobre tudo d'uma amor eterno.
Agora, pois, meu Deos, que o conhecimento de meu erro me tem aos vossos pés arrependido, proponho com firmes véras (quanto possa a minha miseria, soccorrido com a vossa graça), obedecer-vos até o ultimo suspiro, e nunca mais offender-vos advertidamente, nem ainda com o menor peccado. Por tanto espero, meu Deos, e confio no vosso amor, que alcançarei nesta hora a vossa benção, e me perdoareis,