Sobre seu throno de gloria
Estará o juiz presente,
Fazendo a todos patente
De seus crimes a memoria.
Mas a quem meu peito impuro
Buscará em tanto aperto,
Quando apenas por acerto
O justo estará seguro?
O' tremenda Magestade,
Que quando nos homens salvais,
Tudo de graça lhe dais,
Salvai-me pois por piedade.
Lembrai-vos, Jesu amado,
Que ao mundo por mim viestes:
Não fique quanto me déstes
Naquelle dia frustrado.
Por me buscardes, Senhor,
Descançastes fatigado,
Por mim na cruz encravado:
Não se perca tanto amor.
Vós que punis os peccados,
Com fogo eterno aos precitos,
Perdoai os meus delictos,
Antes que sejão julgados.
Dos meus crimes compungido
Cuberto de pejo o semblante,
Perdoai, ó Deos amante,
A quem vos busca rendido.