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livres dos temores domésticos, levámos nossa bandeira e nossas esquadras à Espanha, à Africa, ao Ocidente e a um mundo ignorado dos antigos, e, desta sorte, revidámos ao rei a guerra que nos fizera. Através de vastos reinos estrangeiros, divulgou-se o nome dos Estados Gerais; construíram-se cidades e fortalezas, de um lado nas regiões da Aurora, de outro sob os tálamos de Febo; gravou-se o nome dos Oranges e dos Nassaus nas ilhas, nos promontorios, nos litorais, nos fortes, nas cidades; reduziram-se a províncias os países bárbaros; despojaram-se dos tesouros asiáticos e americanos as naus espanholas, que foram queimadas diante das próprias costas do Brasil. Revelara-se-nos, enfim, o segredo da dominação: podermos vencer o Ocidente. Já deixava de ser verdade o que de Roma escrevera outrora Dionísio Halicarnasseo: ter sido a primeira e a única que fez do oriente e do ocidente o término do seu poderio. Chegámos, de feito, aos tempos em que vemos, felizes, o sol, testemunha de tantas vitórias, não Guerra dupla.ter ocaso também nos nossos domínios (7). Demos um exemplo mais eloqüente que os dos antigos e enumerado entre as maravilhas da nossa época: — um povo, envolvido em tantas guerras, apenas com o dinheiro de alguns particulares, como que cotizados para a ruína do inimigo comum, vexar e abater um rei poderosíssimo numa guerra dupla, em partes do mundo separadas por todo um hemisfério, para igualar hoje a extensão do império holandês quasi com a redondeza da terra.

Causas da navePoderia. sem dúvida, a nossa bravura cingir-se à necessigação para a In— dade de se defender, contentando-se com os limites costumados do oceano. Entretanto, vedada por ordens régias a navegação dos nossos compatriotas para a Espanha e depois para o Oriente, começou ela a estender-se mais. E esta raça criada entre as águas, como se partisse o freio imposto à sua ambição, demandou as plagas longínquas do orbe, ainda mesmo usurpando vias que a Natureza negou ao homem.

O espírito mercantil, frustrado na esperança do ganho, acirra-se e incita-se com os próprios perigos. Pensava-se assim: que não é lícito, por uma lei pessoal dos soberanos, impor servidão ao mar, franqueado a todos; que se carecerá no país das cousas necessárias, se não se forem buscar a outras partes; que ainda mesmo na Índia engendra o Criador produtos úteis aos neerlandeses; que são