E caminhando rente ao silvado, chapinhando a lama, toda alegre:

— Quando eu era pequena nunca passava pela cancela! Saltava sempre por ali. E cada trambolhão, quando o chão estava resvaladiço com a chuva! Era um vivo demônio, aqui onde me vê! Ninguém há-de dizer, senhor pároco, hem? Ai! vou-me a fazer velha! - E voltando-se para ele, com um risinho onde luzia o esmalte dos dentes:

— Não é verdade? Estou-me a fazer velha, hem?

Ele sorria. Custava-lhe falar. O sol, batendo-lhe nas costas, depois do vinho do abade, amolecia-o: e a figura dela, os seus ombros, os seus encontros davam-lhe um desejo contínuo e intenso.

— Aqui está o salto da cabra, disse Amélia parando.

Era uma abertura estreita no valado: a terra do outro lado, mais baixa, estava toda lamacenta. Via-se dali a fazenda da S. Joaneira: o campo plano estendia-se até um olival, com a erva fina muito estrelada de pequenos malmequeres brancos; uma vaca preta, de grandes malhas, pastava; e para além viam-se tetos aguçados dos casais, onde voavam revoadas de pardais.

— E agora? perguntou Amaro.

— Agora saltar, disse ela rindo.

— Cá vai! exclamou ele.

Traçou a capa, saltou: mas escorregou nas ervas úmidas, - e imediatamente Amélia, debruçando-se, rindo muito, com grandes acenos de mãos:

— E agora adeus, senhor pároco, que eu vou ter com a D. Maria. Aí fica preso na fazenda. Para cima não pode o senhor pular, pela cancela