entre as mãos, tonto. Que havia de fazer? que havia de fazer? Resoluções bruscas relampejavam-lhe um momento no espírito, esvaíam-se. Queria escrever-lhe! Tirá-la por justiça! Ir para o Brasil! Saber quem descobrira que ele era o autor do artigo! - E como isto era o mais praticável àquela hora, correu à redação da Voz do Distrito.

Agostinho, estirado no canapé, com a vela ao pé sobre uma cadeira, saboreava os jornais de Lisboa. A face descomposta de João Eduardo assustou-o.

— Que é?

— É que me perdeste, maroto!

E de um só fôlego acusou furiosamente o corcunda de o ter traído.

Agostinho erguera-se devagar, procurando sem perturbação a bolsa do tabaco na algibeira da jaqueta.

— Homem, disse, nada de espalhafatos... Eu dou-te a minha palavra de honra que não disse a ninguém do Comunicado. É verdade que ninguém me perguntou...

— Mas quem foi, então? gritou o escrevente.

Agostinho enterrou a cabeça nos ombros.

— Eu o que sei é que os padres andavam numa azáfama para saber quem era. O Natário esteve aí uma manhã, por causa do anúncio de uma viúva que recorre à caridade pública, mas do Comunicado não se disse nem palavra... O doutor Godinho é que sabia, entende-te com ele! Mas então fizeram-te alguma?

— Mataram-me! disse João Eduardo lugubremente.

Ficou um momento a fixar o soalho, aniquilado,