— Acabou-se, pensou, dou-lhe uma libra e imponho-a.

Nós de dedos bateram discretamente à porta do quarto.

— Entre! disse Amaro sentando-se logo, curvando-se vivamente sobre a mesa, como absorvido, abismado nos seus papéis.

A Dionísia entrou, pousou o púcaro da água sobre o lavatório, tossiu, e falando sobre as costas de Amaro:

— Ó senhor pároco, olhe que isto assim não tem jeito. Ontem iam vendo sair daqui a pequena. É muito sério, menino... Para bem de todos é necessário segredo!

Não, não a podia impor! A mulher estabelecia-se, à força, na sua confidência. Aquelas palavras mesmo, murmuradas com medo das paredes, revelando uma prudência de ofício, mostravam-lhe a vantagem duma cumplicidade tão experiente.

Voltou-se na cadeira, muito vermelho.

— Iam vendo, hem?

— Iam vendo. Eram dois bêbedos... Mas podiam ser dois cavalheiros.

— É verdade.

— E na sua posição, senhor pároco, na posição da pequena!... Tudo se deve fazer pelo calado... Nem os móveis do quarto devem saber! Em coisas que eu protejo, exijo tanta cautela como se se tratasse da morte!

Amaro então decidiu-se bruscamente a aceitar a proteção da Dionísia.

Rebuscou num canto da gaveta, meteu-lhe meia libra na mão.