— Ó tia Dionísia, diga lá com franqueza: não é a primeira vez que você aconselha a casa do sineiro, hem?

Ela então negou, muito decisivamente. Era homem que nem conhecia, o tio Esguelhas! Mas tinha-lhe vindo aquela idéia de noite, a malucar na cama. Pela manhã cedo fora examinar o sítio, e reconhecera que estava a calhar.

Tossicou, foi-se aproximando sem ruído da porta: e voltando-se ainda, com um último conselho:

— Tudo está em que vossa senhoria se entenda bem com o sineiro.



Era isso agora o que preocupava o padre Amaro.

O tio Esguelhas passava na Sé, entre os serventes e os sacristães, por um macambúzio. Tinha uma perna cortada e usava muleta: e alguns sacerdotes, que desejariam o emprego para os seus protegidos, sustentavam mesmo que aquele defeito o tornava, segundo a Regra, impróprio para o serviço da Igreja. Mas o antigo pároco José Miguéis, em obediência ao senhor bispo, conservara-o na Sé, argumentando que o trambolhão desastroso que motivara a amputação fora na torre, numa ocasião de festa, colaborando no culto: ergo estava claramente indicada a intenção de Nosso Senhor em não prescindir do tio Esguelhas. E quando Amaro tomara conta da paróquia, o coxo valera-se da influência da S. Joaneira e de Amélia para conservar, como ele dizia, a corda do sino. Era além disso (e fora a opinião da Rua da Misericórdia) uma obra de