divina, propor que fosse Amélia levar uma educação devota à triste paralítica... E hesitava supersticiosamente diante do seu motivo todo carnal, todo de concupiscência. A filha do sineiro aparecia-lhe agora, exageradamente, abismada numa treva de agonia. Sentia toda a caridade que haveria em consolá-la, entretê-la, fazer-lhe os dias menos amargos... Esta ação redimiria decerto muitas culpas, encantaria Deus, se fosse feita num puro espírito de fraternidade cristã! Vinha-lhe uma compaixão sentimental de bom rapaz por aquele miserável corpo pregado numa cama sem nunca ver o sol nem a rua... E ali estava embaraçado, naquela piedade que o invadia, sem se decidir, coçando a nuca, arrependido quase de ter falado às senhoras da Totó... Mas D. Joaquina Gansoso tivera uma idéia:

— Ó Sr. padre Amaro, se se lhe mandasse aquele livro com pinturas de vidas dos santos? Eram pinturas que edificavam. A mim tocavam-me a alma... Não és tu que o tens, Amélia?

— Não, disse ela, sem erguer os olhos da costura.

Amaro então olhou-a. Tinha-a quase esquecido. Estava agora do outro lado da mesa, abainhando um esfregão: a risca muito fina desaparecia na abundância espessa do cabelo, onde a luz do candeeiro ao lado punha um traço lustroso; as pestanas pareciam mais longas, mais negras sobre a pele da face, dum trigueiro cálido, que uma tinta rosada aquecia; o vestido justo, que se franzia numa prega sobre o ombro, elevava-se amplamente sobre a forma dos peitos, que ele via arfar no ritmo da respiração igual... Era aquela