Ele atirava-lhe beijos vorazes pelo pescoço, pelos cabelos; às vezes mordia-lhe a orelha; ela dava um gritinho; e ficavam então muito quedos, escutando, com medo da paralítica embaixo. O pároco depois fechava as portadas da janela e a porta muito perra que tinha de empurrar com o joelho. Amélia ia-se despindo devagar; e com as saias caídas aos pés ficava um momento imóvel, como uma forma branca na escuridão do quarto. Em redor o padre, preparando-se, respirava forte. Ela então persignava-se depressa, e sempre ao subir para o leito dava um suspirozinho triste.

Amélia só podia demorar-se até ao meio-dia. O padre Amaro por isso pendurava o seu cebolão no prego da candeia. Mas quando não ouviam as badaladas da torre, Amélia conhecia a hora pelo cantar dum galo vizinho.

— Devo ir, filho, murmurava toda cansada.

— Deixa lá... Estás sempre com a pressa...

Ficavam ainda uns momentos calados, numa lassidão doce, muito chegados um ao outro. Pelas vigas separadas do telhado mal junto viam aqui e além fendas de luz: ás vezes sentiam um gato, com as suas passadas fofas, vadiar, fazendo bulir alguma telha solta; ou um pássaro, pousando, chilreava e ouviam-lhe o frêmito das asas.

— Ai, são horas, dizia Amélia.

O padre queria detê-la; não se fartava de lhe beijar a orelhinha.

— Lambão! murmurava ela. Deixe-me!

Vestia-se à pressa no escuro do quarto; depois ia abrir a janela, vinha ainda abraçar o pescoço de Amaro, que ficara estatelado sobre o leito; e ia