batendo as pálpebras como acordada de muito longe; uma onda de sangue escaldou-lhe o rosto:

— Oh! Amaro, que horror, que pecado!...

— Tolice! disse ele.

Mas ela desprendia-se do manto, toda aflita:

— Tira-mo, tira-mo! gritava, como se a seda a queimasse.

Então Amaro fez-se muito sério. Realmente não se devia brincar com coisas sagradas...

— Mas não está benzida... Não tem dúvida...

Dobrou o manto cuidadosamente, envolveu-o no lençol branco, colocou-o no gavetão, sem uma palavra. Amélia olhava-o petrificada; e só os seus lábios pálidos se moviam numa oração.

Quando ele lhe disse, enfim, que eram horas de irem a casa do sineiro - recuou, como diante do demônio que a chamasse.

— Hoje não! exclamou, implorando-o.

Ele insistiu. Era levar realmente muito longe a pieguice... Ela bem sabia que não era pecado, quando as coisas não estavam benzidas... Era ser muito pobre de espirito... Que demônio, só meia hora, ou um quarto de hora!

Ela, sem responder, ia-se aproximando da porta.

— Então não queres?

Ela voltou-se, e com uns olhos suplicantes:

— Hoje não!

Amaro encolheu os ombros. E Amélia atravessou rapidamente a igreja, de cabeça baixa e olhos nas lajes, como se passasse entre as ameaças cruzadas dos santos indignados.