legendária. Mas enfim fora necessário aparecer no quarto da velha, para receber as suas instruções de enfermeira sobre as horas dos remédios e as dietas. E um dia que acompanhara o doutor até à porta, ficou gelada, vendo-o parar, voltar-se para ela cofiando a sua grande barba branca que lhe caía sobre o jaquetão de veludo, e dizer-lhe sorrindo:
— Eu bem tinha dito a tua mãe que te casasse!
Duas lágrimas saltaram-lhe dos olhos.
— Bem, bem, pequena, não te quero mal por isso. Estás na verdade. A natureza manda conceber, não manda casar. O casamento é uma fórmula administrativa...
Amélia olhava-o, sem o compreender, com as duas lágrimas muito redondinhas a correrem-lhe devagar pela face. Ele bateu-lhe com os dedos no queixo, muito paternal:
— Quero dizer que, como naturalista, regozijo-me. Acho que te tornaste útil à ordem geral das coisas. Vamos ao que importa...
Deu-lhe então conselhos sobre a higiene que devia ter.
— E quando chegar a ocasião, se te vires atrapalhada, manda-me chamar...
Ia descer; Amélia deteve-o, e com uma suplicação assustada:
— Mas o senhor doutor não vai dizer nada na cidade...
O doutor Gouveia parou:
— Então não é estúpida?... Está bom, também to perdôo. Está na lógica do teu temperamento. Não, não digo nada, rapariga. Mas para que diabo, então, não casaste tu com esse pobre João Eduardo? Fazia-te tão feliz como o outro,