cortininha de cassa, um luxo tão raro naquelas freguesias pobres; recordava a boa ordem, o escarolado da louça da cozinha... Decerto, o pequerrucho devia ter também um berço asseado...

Ah, estava doido decerto na véspera, quando pusera ali, na mesa da cozinha, quatro libras de ouro, preço adiantado dum ano de criação, e dissera cruelmente ao anão: "Conto consigo!" Pobre pequerruchinho!... Mas a Carlota compreendera bem, à noite na Ricoça, que ele agora queria-o vivo, o seu filho, e criado com mimo!... Todavia não o deixaria ali, não, sob o olho raiado de sangue do anão... Levá-lo-ia nessa noite à Joana Carreira dos Poiais...

Que as sinistras histórias da Dionísia, a tecedeira de anjos, eram uma legenda insensata. A criança estava muito regalada em casa da Micaela, chupando aquele bom peito de quarentona sã... E vinha-lhe então o mesmo desejo de deixar Leiria, ir enterrar-se em Feirão, levar consigo a Escolástica, educar lá a criança como sobrinho, revivendo nele largamente todas as emoções daquele romance de dois anos; e ali passaria numa paz triste, na saudade de Amélia, até ir como o seu antecessor, o abade Gustavo que também criara um sobrinho em Feirão, repousar para sempre no pequeno cemitério, de Verão sob as flores silvestres, de Inverno sob a neve branca.

Então a Carlota apareceu; e ficou atônita ao reconhecer Amaro, sem passar da cancela, com a testa franzida, a sua bela face muito grave.

— A criança? exclamou Amaro.

Depois dum momento, ela respondeu, sem perturbação: