Eu não posso, bem vê, e vou-me embora, porque, se aqui ficasse, estalava-me o coração. Sua excelentíssima irmã lá estará tratando do enterro... Eu, como compreende, não posso. Muito lhe agradeço tudo... Até um dia, se Deus quiser que nos tomemos a ver. Por mim conto ir para longe, para alguma pobre paróquia de pastores, acabar meus dias nas lágrimas, na meditação e na penitência. Console como puder a desgraçada mãe. Nunca me esquecerei do que lhe devo, enquanto tiver um sopro de vida. E adeus, que nem sei onde tenho a cabeça. - Seu amigo do C. - Amaro Vieira."

P.S. - A criança morreu também, já se enterrou.



Fechou a carta com uma obreia preta; e depois de arranjar os seus papéis, foi abrir o grande portão chapeado de ferro, olhar um momento o pátio, o barracão, a casa do sineiro... As névoas, as primeiras chuvas já davam àquele recanto da Sé o seu ar lúgubre de Inverno. Adiantou-se devagar, sob o silêncio triste dos altos contrafortes, espreitou à vidraça da cozinha do tio Esguelhas: ele lá estava, sentado à chaminé, com o cachimbo na boca, cuspilhando tristemente para as cinzas. Amaro bateu de leve nos vidros - e quando o sineiro abriu a porta, aquele interior conhecido, rapidamente entrevisto, a cortina da alcova da Totó, a escada que ia para o quarto, agitaram o pároco de tantas recordações e de saudades tão bruscas, que não pôde falar um momento, com a garganta tomada de soluços.