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porque entre os elementos que constituem uma sociedade qualquer, — familia, municipio, tribu ou nação, — com certeza a lingua um dos mais importantes.

O presente estudo sahiu já, um pouco mais imperfeito do que agora, em folhetins dos n.os 472, 473, 479, 482 e 483 do jornal de Penafiel O Penafidelense (Julho-Agosto de 1882).

As primeiras informações que colhi a respeito do dialecto mirandez devo-as, na maxima parte, ao estudioso alumno da Academia Polytechnica do Porto o meu amigo o snr. Manoel Antonio Branco de Castro, natural da freguezia de Duas-Igrejas (concelho de Miranda); depois augmentei-as, já com novos materiaes fornecidos pelo mesmo alumno na occasião das ferias de Agosto e Setembro d’este anno, já com o interrogatorio pessoal, que fiz a uma mulher mirandeza analphabeta, e a outras pessoas com quem me pôz em relação o digno major de cavalleria n.º 7, de Bragança, o snr. J. Ferreira Sarmento. Materiaes de ordem diversa vierão de algum modo tornar mais completo este trabalho, que eu, ainda assim, publico, não como definitivo, mas como simples notas, cuja deficiencia provém de mais a mais de constituirem ellas o meu primeiro ensaio glottologico, e de nada existir escripto sobre o mirandez, além do que eu tinha publicado.

Nas comparações que faço com outros dialectos romanicos, tenho em vista principalmente mostrar a generalidade das leis. Muita gente, sem duvida por não possuir sequer os rudimentos da glottologia, sciencia moderna nos seus methodos, suppõe que a linguagem popular é desconnexa, arbitraria, corrupção estupida da linguagem litteraria; e no emtanto nada ha mais falso, porque, como muito bem notou É. Littré, «beaucoup de mots et de tournares, oubliés ailleurs, survivent dans les différents patois; en lisant les glossaires, en causant avec les paysans et les ouvriers, on trouve que le vieux langage est moins mort qu’on ne croyait» (Hist. de la langue française, ii, 94, ed. 1878).

Apresentando aos mestres da glottologia este curto ensaio sobre um dialecto, evolução legitima do latim popular outr’ora fallado na Lusitania, espero que as luzes da critica me elucidem no que esse ensaio tiver de defeituoso, e me animem assim a proseguir numa ordem de estudos tão novos, tão importantes, tão bellos, e ao mesmo tempo tão pouco cultivados na peninsula iberica, onde ape-