prazer que encontrava na vida independente.

Desde então andava assim, de porta em porta, a visitar as suas antigas freguesas, hoje já velhas e mães de filhas casadas. Em toda parte era sempre muito bem recebida, e apesar das caçoadas as vezes um tanto pesadas que lhe dirigiam, gozava de uma certa consideração e respeito por parte de todo esse mundo novo, que carregara ao colo, que acompanhara nas lentas evoluções através da sociedade. Tinha um lugar reservado em todos os enterros, em todos os casamentos e em todos os batizados. Mas o seu verdadeiro trono, onde ela gostava de se mostrar aos seus, era ali à noite, depois do chá, rodeada pelas crianças que lhe pediam histórias Então a boa velha procurava endireitar o corpo e ia, uma a uma, desfiando todas as Mil e Uma Noites peneiradas através de uma corrupção popular. E outras ocasiões entrava pelo seu passado adentro, um passado honesto e chão de virgem macróbia, sem incidentes, que guardara apenas recordações dos tempos agitados de Pedro I e da Regência, que conservara até umas vagas e incertas reminiscências da chegada de d. João VI, naturalmente adquiridas pela tradição.