I


Eu conto o caso como o caso foi...

(Canção maranhense.)

Era um dia abafadiço e aborrecido.

A cidade de S. Luiz do Maranhão parecia adormecida em um forno quente—as pparedes tinham reverberações argentinas; as pedras das ruas escaldavam; as vidraças faiscavam ao sol, como enormes diamantes; as folhas das arvores nem se mexiam; as carroças d'agoa, pezadas e ruidosas, passavam com grandes e sonoros estalos nas pedras da rua, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem ceremonia as casas para encher as banheiras e os potes.

Em certos pontos não se via viva alma na rua—estava tudo concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.

A praça d'Alegria tinha um aspecto funebre e hypocondriaco—estava solitaria, triste; de um casebre miseravel, de porta e janella, ouviam-se gemer armadores enferrujados de rede, e uma voz tisica e aflan-