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nós viamos sempre na 1ª ordem do theatro, com a tez ingleza e os olhos malteses, d’uma frescura de miss e movimentos de andaluza, e que era uma radiosa Mademoiselle Rize, dançarina em disponibilidade. De resto, o conde não podia separar-se de Rytmel.

Ali, em Malta, os movimentos da condessa e do official não estavam tanto sob o dominio da minha vista. Eu, ás vezes, não via a condessa um dia, dois dias, absorto na companhia de alguns officiaes inglezes, em passeios no mar, no campo, em ceias e no jogo. Comprehendia porém que aquella paixão da condessa a dominava absolutamente. Rytmel parecia-me tambem perdidamente namorado.

Não lhe quero dizer, senhor redactor, os raciocinios interiores, que me determinaram a ser indifferente áquella situação. Comprehenderá claramente os motivos por que resolvi não saber, não olhar, não perceber, isolar-me n’uma discripção completa e delicada.

Pouco tempo depois de chegarmos a Malta, tinhamo-nos relacionado com lord Grenley, que estava ali passando o inverno e curando os seus blue devils. Tinha vindo de Inglaterra n’um lindo yacht, chamado The Romantic, que nós viamos todos os dias na bahia bordejar, fazendo reluzir ao sol os seus cobres polidos e o seu esvelto costado branco. Lord Grenley ligára-se muito com o conde. Era tambem o Intimo de Rytmel.

Carmen tinha-se encontrado pouco com a condessa, a não ser no theatro, onde a crivava de olhares impertinentes, em plena e altiva indifferença da condessa. Carmen, irritada, não vivendo nas relações de ladies, não a encontrando, como nos sete metros do tombadilho do paquete, sob a acção dos seus largos gestos e das suas asperas ironias, desforrava-se á mesa de Clarence-Hotel, envolvendo indirectamente Rytmel em toda a sorte de allusões e de palavras causticas. A sua ultima tactica era instigar sempre Mr. Perny contra o official, arremessal-o contra todas as idéas, todas as opiniões de Rytmel; não sei se com a esperança perversa de um duello, se apenas pelo gosto de o vêr contrariado...

Um dia fallava-se da India. Rytmel dizia a transformação fecunda que a Inglaterra lhe tinha feito. Uma grande risada interrompeu-o. Era Perny.

— Ri-se? disse Rytmel, levemente pallido.

— Rio-me? Estalo de riso, tenho apoplexias de riso. Que transformação fecunda fez a Inglaterra á India? A transformação da poesia, da imaginação, do sol, n’uma coisa chata, trivial e cheia de carvão. Eu estive na India, meus