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Todas estas cousas, aliás sympathicas, commoventes por vezes, sempre sinceras, desgostam todavia velhos escriptores, que ha muito desviaram os seus olhos das perspectivas enevoadas da sentimentalidade, para estudarem pacientemente e humildemente as claras realidades da sua rua.

Como permittimos pois que se republique um livro que sendo todo d’imaginação, scismando e não observado, desmente toda a campanha que temos feito pella arte de analyse e de certeza objectiva?

Consentimol-o porque entendemos que nenhum trabalhador deve parecer envergonhar-se do ser trabalho.

Conta-se que Murat, sendo rei de Napoles, mandara pendurar na sala do throno o seu antigo chicote de postilhão, e muitas vezes, apontando para o sceptro mostrava depois o açoite, gostando de repetir: Comecei por ali. Esta gloriosa historia confirma o nosso parecer, sem com isto querermos dizer que ella se applique ás nossa pessoas. Como throno temos ainda a mesma velha cadeira em que escreviamos ha quinze annos; não temos docel que nos cubra; e as nossas cabeças, que embranquecem, não se cingem por emquanto de corôa alguma, nem de louros, nem de Napoles.

Para nossa modesta satisfação basta-nos não ter cessado de trabalhar um só dia desde aquelle em que datámos este livro até o instante em que elle nos reapparece inesperadamente na sua terceira edição, com um petulante arzinho de triumpho que, á fé de Deus, não lhe vae mal!

Então, como agora, escreviamos honestamente, isto é, o melhor que podiamos: d’esse amor da perfeição, que é a honradez dos artistas, veio talvez a sympathia do publico ao livro da nossa mocidade.