Página:O Mysterio da Estrada de Cintra (1894).pdf/113

Gozzo, passeamos, rimos, jantamos, e ao anoitecer, quando Deus espalhar o seu rebanho de estrellas, voltaremos na viração e na phosphorescencia, calados, ouvindo o piloto arabe cantar as doces melopeas da Syria, ao ruido languido da maresia...

Rytmel tinha descido a dar as ordens para o almoço. A condessa ficara de pé, á prôa, com um vestido curto de xadrez, botinas altas, envolta n’uma manta escoceza, de largas pregas. Nunca eu a vira tão linda.

Costeavamos Malta com vento oeste.

Approximamo-nos da ilha de Cumino. Rytmel veio-nos dizer que deveriamos almoçar, e que ao fim de meia hora desembarcavamos em Gozzo, na Calle Maggiara; iriamos vêr as curiosidades da ilha, tornariamos a embarcar para tornear Gozzo, e vêr as terriveis cavernas, onde o mar se abysma e se perde, e ao anoitecer tocariamos o caes de La Valette.

O almoço foi muito alegre. Havia Champagne, um Rheno adoravel, um guizado arabe e um piano na camara. Captain Rytmel, cujo aspecto me parecia ter uma preoccupação inexplicavel, fez ao piano depois do almoço interminaveis improvisações. Caminhavamos sempre. Casualmente, tirei o relogio, e tive um sobresalto! Havia duas horas e meia que tinhamos descido! Ora quando o almoço começára, faltava-nos meia hora para desembarcar em Maggiara! Porque seguiamos então? Subi rapidamente á tolda. O piloto arabe estava ao leme. Não se via quasi a terra: iamos no mar alto, navegando com uma extraordinaria velocidade sob o vento.

— Onde está Gozzo? gritei ao arabe em inglez, depois em francez, depois em italiano.

O arabe nem sequer se dignou olhar-me. N’este momento Rytmel e a condessa subiam.

— Onde está Gozzo? perguntei eu a Rytmel.

— Ha talvez uma bruma, respondeu elle vagamente e voltando o rosto.

O horisonte porém estava limpo, puro, sem mysterio, a perder de vista. Ao longe via-se uma sombra indefinida que denunciava a terra: e nós affastavamo-nos d’ella!

Corri á bussola. Navegavamos para Oeste.

— Navegamos para Oeste, Captain Rytmel! affastámo-nos de Malta! Que é isto? Para onde vamos?

Rytmel olhou longamente a condessa, depois a mim e disse:

— Vamos para Alexandria.

Num relance comprehendi tudo. Rytmel fugia com a Condessa!...

Eu fitei Rytmel, e disse-lhe tremendo todo: