Página:O Mysterio da Estrada de Cintra (1894).pdf/17

EXPOSIÇÃO DO DOUTOR ***

 

I

 

Sr. redactor do Diario de Noticias.


Venho pôr nas suas mãos a narração de um caso verdadeiramente extraordinario em que intervim como facultativo, pedindo-lhe que, pelo modo que entender mais adequado, publique na sua folha a substancia, pelo menos, do que vou expôr.

Os successos a que me refiro são tão graves, cerca-os um tal mysterio, envolve-os uma tal apparencia de crime que a publicidade do que se passou por mim torna-se importantissima como chave unica para a desencerração de um drama que supponho terrivel com quanto não conheça d’elle senão um só acto e ignore inteiramente quaes foram as scenas precedentes e quaes tenham de ser as ultimas.

Ha tres dias que eu vinha dos suburbios de Cintra em companhia de F..., um amigo meu, em cuja casa tinha ido passar algum tempo.

Montavamos dois cavallos que F... tem na sua quinta e que deviam ser reconduzidos a Cintra por um criado que viera na vespera para Lisboa.

Era ao fim da tarde quando atravessámos a charneca. A melancolia do logar e da hora tinha-se-nos communicado, e vinhamos silenciosos, abstrahidos na paizagem, caminhando a passo.