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lançou para dentro do trem a mascara que tinha no rosto, e partimos a galope.

Quando entrei para a carruagem pareceu-me avistar ao longe, vindo de Lisboa, um omnibus, talvez uma sege. Se me não illudi, a pessoa ou pessoas que vinham no trem a que me refiro terão visto os nossos cavallos, um dos quaes é russo e o outro castanho, e poderão talvez dar noticia da carruagem em que íamos e da pessoa que nos servia de cocheiro. O coupé era, como já disse, verde e preto. Os stores, de mogno polido, tinham no alto quatro fendas estreitas e oblongas, dispostas em cruz.

Falta-me tempo para escrever o que ainda me resta por contar a horas de expedir ainda hoje esta carta pela posta interna.

Continuarei. Direi então, se o não suspeitou já, o motivo porque lhe occulto o meu nome e o nome do meu amigo.

II

 

Julho, 24 de 1870 — Acabo de ver a carta que lhe dirigi publicada integralmente por v. no logar destinado ao folhetim do seu periodico. Em vista da collocação dada ao meu escripto procurarei nas cartas que houver de lhe dirigir não ultrapassar os limites demarcados a esta secção do jornal.

Por esquecimento não datei a carta antecedente, ficando assim duvidoso qual o dia em que fomos surprehendidos na estrada de Cintra. Foi quarta feira, 20 do corrente mez de julho.

Passo de prompto a contar-lhe o que se passou no trem, especificando minuciosamente todos os pormenores e tentando reconstruir o dialogo que travámos, tanto quanto me seja possivel com as mesmas palavras que n’elle se empregaram.

A carruagem partiu na direcção de Cintra. Presumo porém que deu na estrada algumas voltas, muito largas e bem dadas porque se não presentiram pela intercadencia da velocidade no passo dos cavallos. Levaram-me a suppol-o, em primeiro logar as differenças de declive no nivel do terreno, com quanto estivessemos rodando sempre em uma estrada macadamisada e lisa; em segundo logar