o meu amigo receava descobrir, não tem decerto que vêr n’este negócio.
— De certo que não. Este homem é o assassino.
E voltando-se para elle com um olhar terrivel, que flammejava debaixo da mascara:
— E porque o matou?
— Matei-o... respondeu o homem.
— Matou-o, disse o mascarado com uma lentidão de voz que me aterrou, para lhe roubar 2:300 libras em bank-notes, que aquelle homem tinha no bolso, dentro de uma bilheteira em que estavam monogramadas duas lettras de prata, que eram as iniciais do seu nome.
— Eu!... para o roubar! Que infamia! Mente! Eu não conheço esse homem, nunca o vi, não o matei!
— Que malditas contradicções! gritou o mascarado exaltado.
A.M.C. objectou lentamente:
— O senhor que está mascarado... este homem não era seu amigo, o unico amigo que elle conhecia em Lisboa?
— Como sabe? gritou repentinamente o mascarado, tomando-lhe o braço. Falle,diga.
— Por motivos que devo occultar, continuou o homem, sabia que este sujeito, que é extrangeiro, que não tem relações em Lisboa, que chegou ha poucas semanas, vinha a esta casa...
— É verdade, atalhou o mascarado.
— Que se encontrava aqui com alguem...
— É verdade, disse o mascarado.
Eu, pasmado, olhava para ambos, sentia a lucidez das idéas perturbada, via apparecer uma nova causa imprevista, temerosa e inexplicavel.
— Além d’isso, continuou o homem desconhecido, ha de saber tambem que um grande segredo occupava a vida d’este infeliz...
— É verdade, é verdade, dizia o mascarado absorto.
— Pois bem, hontem uma pessoa, que casualmente não podia sair de casa, pediu-me que viesse ver se o encontrava...
Nós esperavamos, petrificados, o fim daquellas confissões.
— Encontrei-o morto ao chegar aqui. Na mão tinha este papel.
E tirou do bolso meia folha de papel de carta, dobrada.
— Leia, disse elle ao mascarado.
Este approximou o papel da luz, deu um grito, caiu sobre uma cadeira com os braços pendentes, os olhos cerrados.