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NARRATIVA DO MASCARADO ALTO

 

I

 

Senhor redactor. — A pessoa que lhe escreve esta carta é a mesma que n’essa aventura da estrada de Cintra, popularisada pela carta do doutor ***, guiou a carruagem para Lisboa. Sou já conhecido, com a minha mascara de setim preto e a minha estatura, por todas as pessoas que tenham seguido com interesse a successiva apparição d’estes segredos singulares; eu era nas cartas do doutor *** designado pelo — mascarado mais alto. — Sou eu. Nunca suppuz que me veria na necessidade lamentavel de vir ao seu jornal trazer tambem a minha parte de revelações! Mas desde que vi as accusações improvisadas, sem analyse e sem logica, contra o doutor*** e contra mim, eu devia ao respeito da minha personalidade e á consideração que me merece a impeccavel probidade do doutor *** o vir affastar todas as contradicções hypotheticas e todas as improvisações gratuitas, e mostrar a verdade real, implacavel, indiscutivel. Detinha-me o mais forte escrupulo que póde dominar um caracter altivo: era necessario fallar n’uma mulher, e arrastar pelas paginas de um jornal, o que ha no ser feminino de mais verdadeiro e de mais profundo: a historia do coração. Hoje não me retêem essas considerações; tenho aqui, diante da pagina branca em que