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palavras que caracterisassem tanto o estado do seu coração. Achava-se n’aquelle periodo em que um amor pode apoderar-se para sempre d’uma existencia.

Que succederia se lhe apparecesse um homem bello, nobre, forte, que lhe dissesse de joelhos, uma noite, sob o luar como ha pouco, as coisas infinitas da paixão?

Na manhã seguinte avistámos o môrro de Gibraltar. Desembarcámos. N’uma praça, á entrada, um regimento inglez, de uniformes vermelhos, manobrava ao som da canção do general Boum.

— Detesto os inglezes, disse a condessa.

— O quê?! gritou o conde com uma voz indignada. Os inglezes! Detestas os inglezes?

E voltando-se para mim, com uma attitude profundamente pasmada e abatida:

— Detesta os inglezes, menino!

II

 

Sr. Redactor. — Em Gibraltar fomos para Club House-Hotel. Os quartos abriam sobre a muralha do mar; viamos defronte, afogada n’uma luz admiravel, uma linha de montanhas, e mais longe, do lado do estreito, nas brumas esbatidas, a terra de Africa.

Fomos passeiar logo n’um d’aquelles carros de Gibraltar que são dois bancos parallelos, costas com costas, assentes sobre duas rodas enormes, puchados por um cavallo inglez robusto, rapido, e tendo já adquirido nas convivencias hispanholas um espirito teimoso.

O bello passeio de Gibraltar é uma estrada, que, a meia vertente por cima da cidade, contorna a montanha, e é orlada de cottages, de jardins, de pomares, cheios já das extranhas e poderosas vegetações do Oriente, aloes, nopaes, cactus e palmeiras; e vê-se sempre, atravez da folhagem, lá no fundo, a azul immobilidade luminosa do Mediterraneo.

A condessa estava encantada: aquella luz ampla e magnifica, a agua pesada pelo sol, o silencio religioso do espaço azul, as brumas vaporosas e róxas das montanhas, a vigorosa força das vegetações, tudo dava áquella pobre alma contraida uma expressão