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nem um tigre, nem uma paisagem. Quero tudo! adoro a India, a dos Indios, já se vê, não a dos senhores inglezes. Já esteve em Malta? é bonita?

— Malta, condessa, é um pouco de Italia e um pouco de Oriente. Surprehende por isso. Tem um encanto extranho, singular. De resto é um rochedo.

— Demora-se em Malta? perguntou a condessa.

— Uma semana.

A condessa estava torcendo a sua luva; ergueu os olhos, pousou-os no official, tossiu brandamente, e com um movimento rapido:

— Ah! vae deixar-me ver o seu album.

— Mas, condessa, está branco, quasi branco; tem apenas desenhos lineares, apontamentos topographicos.

— Não creio; deve ter paisagens da India, ha de haver ahi um tigre, pelo menos, a não ser que haja uma bayadera!

E com um gesto de graça victoriosa, tomou o album da mão do official.

O capitão fez-se todo vermelho. Ella folheou o livro e de repente deu um pequeno grito, córou, e ficou com o album aberto, os olhos humidos, risonhos, os labios entreabertos. Olhei: na pagina estava desenhada uma mulher com um penteador branco, debruçada a uma janella, tendo defronte um horisonte com montanhas e o mar. Era o retrato perfeito da condessa. Elle tinha-a visto assim na vespera, ao luar, á janella do Club-House.

O conde tinha-se approximado.

— Como! como! És tu, Luiza! Mas que talento! É um homem adoravel, capitão. Que desenho! Que verdade!

— Oh! não! não! disse o capitão. Hontem estava no meu quarto, em Club-House; instinctivamente tinha o album aberto, e o lapis, sem eu querer, sem intenção minha, espontaneamente, fez este retrato. É um lapis que deve ser castigado.

— O quê! gritou o conde, é um lapis encantado. Capitão, está decidido que vae jantar commigo, logo que cheguemos a Malta. Já o não largo, meu caro! Ha de ser o nosso cicerone em Malta. Mas que talento! Que verdade!

E fallando em portuguez para a condessa:

— E um bebedor de cerveja, hein?

N’esse momento uma sineta tocou: era o almoço.