— E lá não se entra depois das oito horas da noite, acrescentou outra lavadeira.

E os comentários multiplicavam-se, palpitando de todos os lados, numa boa disposição para fazer daquilo o escândalo do dia. Piedade respondia friamente às perguntas curiosas que lhe dirigiam as companheiras; estava triste e sucumbida; não se lavou, não mudou de roupa, não comeu nada, porque a comida lhe crescia na boca e não lhe passava da garganta; o que fazia só era chorar e lamentar-se.

— Forte desgraça a minha! repetia a infeliz a cada instante.

— Se vais assim, filha, estás bem arranjada! exclamou-lhe a Machona, chegando à porta de sua casa a dar dentadas num pão recheado de manteiga. Que diabo, criatura! O homem não te morreu, pra estares agora ai a carpir desse modo!

— Sei-o eu lá se me morreu?... disse Piedade entre soluços. Vi tanta coisa esta noite!...

— Ele te apareceu nos sonhos?... perguntou Leandra com assombro.

— Nos sonhos não, que não dormi, mas vi a modos que fantasmas...

E chorava.

— Ai, credo, filha!

— Estou desgraçada!

— Se te apareceram almas, decerto; mas põe a fé em Deus, mulher! e não te rales desse modo, que a desgraça pode ser maior! O choro puxa muita coisa!