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O IMPERIO BRAZILEIRO

quencia magestosa. A proposta foi approvada em meio de geraes acclamações e o soalho do Senado ficou juncado das flôres, lançadas pelo povo das galerias.



As duas fontes da escravidão achavam-se estancadas: o trafico e o ventre condemnado. Faltava apenas prover ao destino dos que ainda soffriam sem grande esperança a lei cruel do captiveiro. Durante o tempo que os conservadores permaneceram no poder, a saber, até 1878, a questão ficou suspensa, na apparencia porque realmente chammejava no intimo das consciencias. O mundo marchara demasiado e com elle o Brazil para que o resultado obtido pudesse ser julgado sufficiente. A renovação da Camara com a subida dos liberaes fizera apparecer perante o paiz outros nomes e outras idéas. Joaquim Nabuco, primus inter pares, pois que se lhe agruparam alguns adeptos, joven, formoso, talentoso, dotado de uma palavra facil que sua cultura tornava particularmente attrahente, sacudiu a Camara e teria bastado a abalar a nação si a seu lado se não houvesse destacado José do Patrocinio.

De raça negra, como Luiz Gama, Ferreira de Menezes, André Rebouças, jornalistas e pensadores de merito, Patrocinio foi um orador apaixonado e empolgante e um escriptor exaltado e frenetico. Delle disse um publicista que não houve nota alguma do teclado humano, desde as mais sublimes até as mais soturnas, que não passasse pela sua penna, compondo uma symphonia terrifica em que subiam as mais altas aspirações espirituaes, gemiam as mais angustiosas lamentações da raça desgraçada e reboavam as mais pungentes imprecações. A liberdade, o trabalho, a dignidade da especie, a resignação, a piedade, o perdão, a caridade, a submissão, a lisonja, a mentira, a calumnia, a confissão da falta commettida, o arrependimento, a fadiga, a dor, a revolta, o crime — tudo passara n'um tur-