CAPITULO V
127

pliar a acção da lei de emancipação existente por meio de disposições complementares, uma vez que não affixassem um radicalismo revolucionario. Dantas, mais progressivo, ou mais flexivel, ou mais cortezão segundo o denunciava a opposição reaccionaria, foi o unico com valor para acceitar a tarefa e poz valentemente mãos á obra, para transformar numa medida governamental o que estava em via de degenerar numa arruaça. O seu lemma foi — «nem retroceder, nem parar, nem precipitar».



O conselheiro Dantas possuia, mais do que qualquer outro dos homens politicos do momento brazileiro, o dom do encanto pessoal, aquillo que os americanos chamam o magnetismo. Sua aptidão politica era notoria: tanto sabia cercar-se de homens de intelligencia e aproveitar-lhes o engenho, como occupar-se dos interesses, mesmo dos pequenos negocios dos seus correligionarios para quem o chefe do partido deve agir como um deus ex machina. Orador abundante e de recursos, tinha a maneira communicativa, a faculdade de enternecer, e tocava, na perfeição, o instrumento da sympathia. A cordialidade parecia uma manifestação espontanea da sua bonhomia caracteristica. Joaquim Nabuco delle dizia que fazia pensar em Gladstone, pelo liberalismo do seu temperamento de homem d'Estado, cada dia mais inclinado a escutar a opinião publica e a emprehender reformas ousadas. Em summa, era o homem indicado para chamar a si o sentimento popular, guiar os moços ao assalto e affrontar as difficuldades por pura ambição de gloria.

O Imperador não só lhe concedeu toda liberdade de acção como lhe prometteu todo o apoio constitucional. Fallou-se de um «pacto» entre o soberano e o presidente do Conselho, cujo programma comprehendia, além da extincção do trafico inter-provincial e da conversão do fundo de emancipação, para o qual só contribuiam os senhores de escravos, numa fonte alimentada