CAPITULO V
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31 de Dezembro de 1889, quando ficariam livres os 720.000 escravos ainda existentes. Nabuco e os outros abolicionistas arrastavam o throno para a arena, assetteando o Imperador e adulando a Princeza Regente quando D. Pedro II, enfermo, embarcou de novo para a Europa saudado pelo artigo famoso de Quintino Bocayuva — O esquife da Monarchia. O exercito, finalmente, reclamava da Corôa, em nome da humanidade e da caridade christan, que os soldados não fossem torpemente empregados em perseguir negros fugidos. De indemnização não se fazia sequer menção como justa compensação dos prejuizos acorrentados á lavoura pela reforma que se impunha. Era um eclipse total o que devia occultar a mancha negra.

A princeza D. Isabel, como mulher e mulher de grande coração, era em favor da abolição e não dissimulava suas preferencias, antes as patenteava, manifestando-se até de todo alheia a preconceitos de côr. Os republicanos faziam causa commum com os abolicionistas, mas procurando envenenar todos os incidentes, tirar partido d'elles e englobar na mesma miragem todas as liberdades. Infelizmente para a monarchia, na questão abolicionista, que lhe ia alienar a propriedade agricola, o arcabouço social do paiz, se enxertou por esse tempo a questão militar, ajudando a transformar em politica uma crise que devia ser exclusivamente economica. A Regente levada pelos seus sentimentos e por alguns conselheiros de pensar leviano, julgou que procedia com acerto e assegurava o futuro da dynastia, despedindo um gabinete que, defendendo-se, defendia as instituições com a energia calma que era o apanagio do seu chefe, o qual habilmente tratava com indulgencia, para não o irritar mais, o espirito de insubordinação e de indisciplina, tão espalhado já, por um effeito atavico, que a prisão, aliás arbitraria, de um official reformado, levara os seus companheiros de classe na actividade a reunirem-se no Club Naval e armarem os marinheiros da tripulação de guerra para atacarem de noite os policiaes[1].

  1. Tobias Monteiro, ob. cit.