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O IMPERIO BRAZILEIRO



A correlação da instituição servil com a instituição monarchica é facil de comprehender. Os conservadores mais ferrenhos tinham-se esfalfado «em denunciar o soberano, attrahindo sobre elle o odio dos senhores de escravos: agora fôra a vez dos ultra-liberaes denuncial-o ao rancor popular, concordando uns e outros em apresental-o como um typo de astucia, de machiavelismo, de despotismo e de indifferença oriental. A rhetorica pode ser a mais mentirosa das artes. Ninguem foi mais iconoclasta da grande figura imperial que a sorte proporcionou ao Brazil para prestigiar a nacionalidade do que Joaquim Nabuco, que julgou depois expiar sua falta com alguns annos de fidelidade á memoria do regimen que elle tanto ajudara a demolir. A 24 de Agosto de 1885 bradara elle da tribuna da Camara, qual novo Timandro, que «o problema servil, que era de dignidade para a nação mas de vergonha para o throno, essa tarefa divina e humana que os dois grandes libertadores, o do absolutismo e o da republica, Alexandre II e Lincoln, tinham resolvido em 24 horas, não merecera do Imperador do Brazil nem um minuto das suas preoccupações; por amor d'ella não correra risco algum; 45 annos tinham decorrido sem que houvesse pronunciado uma palavra sequer que a historia tivesse podido registrar como uma condemnação formal da escravidão pela monarchia, um sacrificio da dynnastia em favor da liberdade, um appello do soberano ao povo em prol dos escravos. Nada, absolutamente nada, e agora que os dez annos proximos, os ultimos da escravidão, serão provavelmente tambem os ultimos do Imperio, n'esse espaço de tempo equivalente ao antigo interregnum das monarchias electivas, porque nas monarchias populares, não obstante todas as Constituições escriptas, é então que se estabelece definitivamente o direito de successão, o Imperador, a meio da agitação abolicionista e no dia