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O IMPERIO BRAZILEIRO

mais para diante de mostrar que lhe não faltava, quando era necessario, o dom da palavra e que saberia fazer bom uso da sua extraordinaria memoria, que conservou até depois dos 80 annos, das suas aturadas leituras, dos seus variados conhecimentos de Historia e de Economia Politica. A sessão legislativa de 1888 foi cheia de imprevisto e de discussões animadas e mesmo violentas pelo feitio pessoal que assumiram. Ficou celebre o torneio entre Lafayette e João Alfredo, no qual o presidente do Conselho brilhou no primeiro plano, revelando-se um orador severo, correcto, nunca se deixando apanhar de surpreza, inspirando confiança aos seus partidarios, da mesma forma que se sabia impôr aos seus adversarios.

João Alfredo fôra apologista da indemnização, mas a idéa da abolição caminhara com demasiada rapidez para que o gabinete, apezar de conservador, julgasse prudente insistir n'ella. Ficou famosa a phrase de Joaquim Nabuco na Camara, que os escravos não eram liberaes, sendo-lhes indifferente que este partido ou o partido adverso os redimisse do captiveiro. O momento era tal, disse elle n'um assombro tribunicio, que se tornara tão impossivel distinguir a voz dos partidos á beira da catadupa dos destinos nacionaes quanto ouvir o zumbido dos insectos atordoados que esvoaçavam sobre as quedas do Niagara.

Apreciando os acontecimentos a uma luz costumeira e segundo o criterio ordinario do systema parlamentar, houvera na verdade na exigencia pelo poder moderador da demissão do magistrado que á testa da policia se mostrara capaz de fazer frente á desordem e era por isto verberado pelas folhas da opposição e pelos discolos de farda, uma invasão na esphera do executivo, responsavel pela ordem publica. Fôra aliás um simples pretexto da Corôa para substituir um ministerio que gozava do apoio da Camara e do Senado por outro ministerio, reflexo da sua politica. O barão de Cotegipe apontou o episodio, em discurso, como «facto unico na nossa historia parlamentar» e o chefe liberal Silveira Martins deu-lhe o nome de «conspiração do Paço». Joaquim Nabuco justificara de «erro do Imperador» a recusa de conceder ao gabinete Dantas uma segunda dis-