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O IMPERIO BRAZILEIRO

devoção monarchica – o que os inglezes chamam loyalism – que n’um discurso pronunciado ao tempo em que occupava a pasta da Agricultura, não hesitara em referir-se com desdem aos «ouropeis da realeza». A expressão foi então largamente commentada como um signal dos tempos. A maioria conservadora da Camara evoluira tambem no mesmo sentido e o projecto de abolição immediata e incondicional, adoptado sem discrepancia pelo gabinete, foi apresentado no Parlamento a 8 de Maio e promulgado a 13. Na Camara 83 votos o approvaram contra 9. Joaquim Nabuco teria até desejado um voto por acclamação, imitado da Convenção Franceza. Como Andrade Figueira, o campeão da resistencia legal, seguisse protestando, sem se desviar uma pollegada do seu ardor insolente, Nabuco lançou-lhe o epitheto de «coração de bronze»; o outro retorquiu fallando dos «corações de lama».

João Alfredo teria estimado, si possivel, achar um meio de tornar a situação menos penosa para a classe agricola. Fallara-se um instante em preservar nominalmente a condição servil para um curto prazo, de 3 a 5 annos, seguido de uma aprendizagem de trabalho livre e remunerado com salario, por parte dos antigos escravos. Qualquer demora ou obrigação, temporaria que fosse, não era comtudo mais admittida pelo enthusiasmo popular. Arredou-se até o alvitre da obrigação para os ex-escravos de residirem durante algum tempo nos municipios do seu domicilio, afim de evitar a vagabundagem e as desordens. Cerca de um anno mais tarde, em presença da ruina de muitos plantadores, reappareceu na tela de discussão, trazida pelo barão de Cotegipe e por Lafayette – este, antigo republicano – a possibilidade de indemnização, mas sem a menor esperança de ser attendida a sua reclamação.

Ao ter conhecimento em Milão, onde o prostrara gravissima enfermidade que quasi o victimou, da consummação da abolição, D. Pedro II exclamou, ao que se conta – Grande povo! Uma vez, de regresso, e vendo de perto a situação tensa, criada pelo lyrismo dos abolicionistas extremados, observou, porem, que