CAPITULO VI
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CAPITULO VI
O Imperio e o exercito


O exercito brazileiro, altamente dotado de bravura e de patriotismo, nunca foi um modelo de disciplina; denunciou nos começos e nos fins do Imperio estar atacado do virus politico de que tanto teem soffrido as instituições militares da America Latina. Gerado no meio de pronunciamentos constitucionaes, crescido atravez de motins e de revoltas, só depois da pacificação do Rio Grande do Sul em 1845 entrou n’uma phase mais calma e regular. As duas campanhas estrangeiras, contra Rosas, em 1852, e contra Lopez, de 1865 a 1870, augmentaram n’elle o conceito e a vaidade de sua importancia sem lhe inculcar todavia a convicção da disciplina. Sir Richard Burton, que fez justiça ás qualidades pessoaes e profissionaes do soldado brazileiro, elogiando seu denodo e resignação[1], porque elle proprio era um valente e um estoico, escreveu de Caxias que, declarando finda a guerra ao entrar em Assumpção e recusando, por não querer ser «capitão do matto», continuar na perseguição de Lopez, que o conde d'Eu levou a termo, proceder contra a disciplina (in on unofficer-like way). Não se furta entretanto o grande viajante inglez em dizer de Caxias que, si lhe faltava porventura o genio da iniciativa, possuia o talento de saber escolher admiravelmente o melhor ponto de ataque e era um excellente organizador; e de Osorio que ninguem o excedia em bravura temeraria e em cordialidade fidalga.

  1. Letters from the battle-fields of Paraguay, London, 1870.