CAPITULO VI
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da das classes civis[1]. O pundonor e o espirito de corpo das classes armadas facilitaram apenas o jogo das paixões e interesses dos «casacas», sendo o exercito, convencido aliás da superioridade dos seus predicados, instrumento ás mais da vezes e não força propulsora. Desde 1887 entretanto que Floriano Peixoto, a esphinge da Republica, muito mais politico do que Deodoro, fallava na necessidade da «dictadura militar» para expurgar a «podridão nacional».

O ministro da guerra ficara, entretanto, moralmente enxovalhado, sem a auctoridade precisa para reagir. Não tendo as medidas que propoz sido acceitas pelo gabinete e menos ainda pela Corôa, apresentou sua demissão. O marechal Deodoro da Fonseca fez outro tanto, como que para ficar mais livre nos seus movimentos. A sedição propagava-se a todo o exercito; as transferencias de officiaes só faziam espalhar o mal. A honra do soldado está acima de tudo, — declarou do alto da tribuna do Senado o marechal Pelotas, que era um temperamento de caudilho gabarola, — e tem que ser desaggravada com a lei ou contra a lei. Aquella honra é differente da do paizano, a qual pode ser vilipendiada sem a mesma gravidade. Semelhante criterio, transportada para o campo da politica, explica o que se chamou a dynamica d'esse movimento que derrubou o Imperio, sem o Imperio e os seus partidarios quasi darem por isso e sem o pretender de antemão fazer aquelle que fôra posto á frente da revolta.

O ministerio Cotegipe continuou a não querer peccar por excesso de energia e a applicar á questão militar os methodos diplomaticos em que seu chefe era eximio. Emquanto o governo contemporizava e poupava a indisciplina, Pelotas voltava do Rio Grande do Sul para prestar o apoio da sua palavra no Senado e do seu prestigio no paiz ás reclamações da sua classe, toda ella vibrando de indignação pela supposta offensa collectiva. Começava-se a conspirar ás escancaras contra o throno e a fallar no advento da Republica purificadora e reparadora.

  1. A queda do Imperio no Tomo Especial dedicado pelo Instituto Historico á memoria de D. Pedro II, 1925.