Escreve com razão o snr. Vicente Licinio Cardoso que os
projectos de colonização eram officiaes e artificiaes em vez de
serem particulares e espontaneos, e as historias de colonização
apenas historias administrativas. Os primeiros ensaios tinham
sido feitos com gente adrede engajada por agentes sem muitos
escrupulos e com antigas praças dos pouco disciplinados batalhões
estrangeiros. Durante a Regencia, em resultado da suspensão
das subvenções e apezar do Acto Addicional ter outorgado
ás provincias a promoção e fomento da colonização estrangeira,
a importação desta baixou pela falta de iniciativa, pela
escassez de fundos e pela desordem que lavrava em quasi todo
o paiz. O numero de immigrantes europeus no periodo regencial
não passou de 2.569, quando de 1818 a 1830 tinha sido de
9.455. No decorrer do segundo reinado os nucleos coloniaes
foram-se succedendo em maior escala, em outras provincias que
não São Paulo, sendo adoptado o systema da pequena propriedade
rural e cooperando no seu relativo desenvolvimento o governo,
companhias interessadas na materia e particulares. Em Minas
Geraes o mallogro da companhia de Mucury (1847) parece ter
por longo tempo impopularizado a immigração, mas em Santa
Catharina foi assignalado o exito da Hanseatica, fundadora dos
centros florescentes de Joinville e Blumenau. O numero de emigrantes
chegados no reinado de D. Pedro II foi de 806.265[1].
Colonização requer facilidade de transporte, mas as enormes dimensões do Brazil, a falta de capitaes nacionaes e o natural retrahimento de capitaes estrangeiros para emprezas d'aquella natureza, as difficuldades materiaes, a começar por uma cadeia de montanhas a galgar logo perto do littoral no Sul, na parte mais povoada e rica, não permittiram o desenvolvimento das estradas de ferro tão rapido e amplo quanto seria para desejar. Ainda assim o Imperio deixou a maior rede ferro-viaria da America do Sul, com 9.000 kilometros em trafego, o telegrapho submarino funccionando para a Europa sete annos
- ↑ Clemente Brandenburger, Immigração e Colonização sob o segundo reinado, n'O Jornal de 2 de Dezembro de 1925.