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O IMPERIO BRAZILEIRO

prisão e julgamento dos seus transgressores, assim annullando a propria acção do governo brazileiro a tão discutida lei de excepção internacional. Até então a vigilancia dos cruzadores britanicos tinha ido de encontro á resistencia unida dos senhores de escravos, dos traficantes negreiros e das auctoridades, contando todos com a benevolencia do governo imperial que os officiaes da real marinha ingleza desafiavam e humilhavam, exercendo em terras violencias contra as pessoas suspeitas de connivencia no trafico e levando o atrevimento até atirar sobre as fortificações do littoral.

De começo o Imperio tinha contado muito com a sympathia britannica porque a scisão do Reino Unido favorecia os interesses commerciaes inglezes, e da Inglaterra se importou o constitucionalismo como systema de governo; mas a tendencia de approximação politica foi mais pronunciada para o lado da America do Norte. Das republicas neo-hespanholas distanciavam o Brazil antipathias peninsulares herdadas e transplantadas e prevenções filiadas na sua natureza imperial que parecia prenunciar absorpções e emulações.

Os Estados Unidos não levaram a mal que o Brazil se tornasse independente sob a forma monarchica, mesmo porque a nossa monarchia não pretendeu fazer causa commum com as européas no sentido reaccionario e antes adheriu expressamente ao «systema americano», que pode comportar variantes nas suas unidades. A monarchia foi a formula da cohesão nacional, mas o seu espirito era e se queria que fosse genuinamente constitucional. Quando o temperamento voluntarioso do primeiro imperador deu ao regimen um feitio auctoritario, e os interesses da sua dynastia em Portugal o arrastaram para o campo de lucta na Europa, o Brazil deu mostra de querer desviar-se um quasi nada da rota marcada pela doutrina Monroe, mas não passou de uma nuvem no horizonte internacional. Apezar de algumas controversias, mesmo irritantes, relativas a presas maritimas, franquia fluvial e outros assumptos do ramerrão diplomatico, as duas grandes uniões do Novo Mundo, a americana e a brazileira, entenderam-se sempre perfeitamente