CAPITULO X
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Foreign Office pensava agrupar-lhes o Brazil «certamente, escrevia Penedo a Sinimbú, ministro dos negocios estrangeiros do gabinete Angelo Ferraz, com o fim de nos algemar e impedir de ter uma politica fóra dos interesses europeus». Penedo entretanto não acreditava muito n'aquella mediação, que aliás dependia dos belligerantes, e antes julgava ser o boato destinado a acalmar os portadores de titulos de Buenos Ayres e os especuladores da Bolsa.

O negocio Christie, do nome desse diplomata inglez que delle foi directamente responsavel, é o mais desagradavel, porventura, que tem transitado pela chancelaria brazileira. O barão do Penedo dava uma informação exacta sobre a personalidade do ministro britannico quando o qualificava de «extraordinario individuo, que aprendeu a diplomacia no territorio de Mosquito», onde de facto esteve acreditado e deu que fallar.

A questão Christie compõe-se de dois incidentes differentes, sómente occorridos simultaneamente e que por isso apparecem juxtapostos. Entre a legação britannica e o nosso ministerio dos negocios estrangeiros houvera troca de correspondencia bastante aspera a proposito de uma barca ingleza, por nome Prince of Wales, que naufragara num ponto deserto da costa do Rio Grande do Sul e cuja carga, declarava a legação, fundada nas informações do consul britannico, fôra pilhada, havendo mesmo suspeita que tripulantes tinham sido assassinados. O inquerito das auctoridades brazileiras estabeleceu que com effeito se dera crime de roubo dos salvados, isto é, dos caixões que as ondas atiraram sobre a praia, commettido por malfeitores desde então refugiados no Uruguay e cuja extradição fôra solicitada, mas que não se encontrava indicio algum de homicidio. O ministro Christie, sem aguardar a resposta decisiva do governo do Rio de Janeiro, exigiu que um agente britannico tomasse parte no processo intentado e reclamou uma indemnização. Estava neste ponto a controversia quando sobreveio o outro incidente, provocado por trez officiaes da marinha de guerra britannica, da fragata Fort, que, á paizana e em completo estado de embriaguez, tinham desafiado todo um posto policial e passaram