Página:O livro de Esopo fabulario português medieval.pdf/111

 

T

 

tal, na expressão «por tall que nom ladre» = para que não ladre: lii, 4.

talante. Vid. talente.

talente, vontade: l, 2 (talemte); lxiii, 3 (id.). — Alterna com talante em xii, 14 (talamte); xxiii, 10; xxvii, 11 (talamte). Noutros textos portugueses antigos oscillam tambem talente e talante: vid. as observações de Roquete no Leal Conselheiro, p. 267, nota 1. Em hespanhol antigo dá-se o mesmo: «desit me vuestro talante», Arcip. de Hita, Libro de buen amor, ed. de Ducamin, est. 664-c, «sabre vuestro talente», id., est. 676-c. Hoje usa-se ainda em português talante em algumas expressões estereotypadas («a seu talante»), mas não talente.

talhar, cortar: viii, 15, «talhar o collo» = degolar. — Na lingoa moderna usa-se ainda talhar nesse sentido, mas só em certos casos: talhar um fato, talhar o bicho (em ling. pop.), etc.

taxo, teixo, no sentido de fruto do teixo: xxxv, 18 «hũu fruyto que ha nome taxo». Tambem nos fabularios latinos da idade-media se encontra taxum neste sentido[1]. — Para os antigos, a arvore chamada em latim taxus, era de caracter infernal, por ter fruto venenoso. O nosso Fr. Isidoro de Barreira insiste no caracter peçonhento do teixo, e cita as auctoridades da antiguidade romana que o abonam, Ovidio, Plinio, etc.[2]. — No Fabulario taxo é mero latinismo por teixo. Esta palavra hoje usa-se pouco; não foi assim porém outr’ora, pois no onomastico moderno resta ainda do passado Teixedo, Teixeira, Teixello, Teixoso.

teer, ter: 1) em sentido commum, xiv, 11; 2) na expressão «partio-sse das aues, e nom quis teer da hũa parte nem da outra», xxx, 7, i. é: ficar, ser partidario; cfr. fr. tenir pour quelqu’un «ne point abandonner son parti»[3].

  1. Vid. Fabulas do Anonymys Neveleti (= Walter Anglicus) no Lyoner Yzopet, ed. de W. Förster, Heilbronn 1882, p. 126, fab. xlix, v. 13; «vitat auis taxum». Alguns mss. tem toxum e tantum (vid. loc. cit., nota; e Hervieux, Les Fabulistes latins, i, 2.ª ed., 342).
  2. Tratado da significação das plantas, Lisboa 1698, pp. 329-330 (a 1.ª ed. é de 1622).
  3. Dict. génér. de la lang. fr., t. ii, p. 2136, col. 2, in fine.