veer, ver: iv, 12; xvi, 3. — Os ee são etymologicos: lat videre > *ve(d)er(e).
vergonça: 1) vergonha, xv, 16 (vergomça); xvii, 17 (id.); 2) = pudenda: xlii, 3. — Do lat. verecŭndia, i. é *ver’gondia, onde -dia, por estar depois de consoante, deu normalmente -ça, como em verça < vir’dia (de vir’dis); cfr. hesp. verguenza.
vérmẽes, vermes: xliii, 14. Presuppõe o sing. vérmẽ, que Viterbo, Elucid., cita como do sec. xiv. — O etymo está no lat. vulg. *vermine-, deduzido de verminosus; cfr. hesp. arc. bierven, ital. vérmine.
vertude, virtude, no sentido de «capacidade», «valor», como virtus em latim: xxx, 10. — A fórma vertude é corrente no sec. xv: em D. Duarte e Azurara; no cod. illuminado n.º 94 da Biblioteca Nacional, tambem do mesmo sec., fl. 90-r, lê-se igualmente vertude; e ella existe ainda hoje na lingoagem do Alemtejo: Vid. Rev. Lusit., ii, 24.
vesso, verso, no sentido de «sentença»: xl, 25. — A mesma palavra, no sentido porém de «verso» ou «versiculo», se encontra nos Ined. de Alcobaça, iii, 12, em um texto já citado por Cortesão, Subsidios, s. v. Esta é a legitima fórma portuguesa, — do lat. versu-, com ss por rs, como em avêsso < adversu-; talvez mesmo vesso se pronunciasse vésso. A fórma vérso é mero latinismo; cfr. persoa. — No sentido de «sentença» ou «adagio» temos em Gil Vicente, iii, 371, verso. Cfr. tambem hesp. arc. viesso[1].
vezinho, vizinho, vii, 2. — É a fórma legitima portuguesa, do lat. vulg. *vecinu-, e toda a gente, que não falla com affectação, assim pronuncia hoje, embora, por influencia do lat. classico, vicinus se escreva vizinho.
vianda, comida: xix, 3. — Gallicismo já antigo.
vĩir, vir: xxix, 32; xl, 14; xliv, 14. — Os dois ii são etymologicos: lat. venire.
vilania, palavra propria de vilão, injuria: «conpeçou a dizer muyta vilania», xxix, 7; «e disse muyta vilania», lxi, 56. — Neste sentido não vem nos lexicos.
villão, camponês, rustico (por opposição a fidalgo): x, 3 (vilãao; liv, 2 (vilãaos). — Cfr. hesp. villano. Ainda hoje na ilha da Madeira villão corresponde a aldeão, çaloio, etc.: Cupertino de Faria, O Archipel. da Madeira, Setubal 1901, p. 152.
- ↑ Vid. D. Carolina Michaëlis, in Festschrift Adolf Tobler, 1905, p. 21 e nota 3.