«sube em cima de mim, iii, 8-9. — Este uso, que é corrente no português do Brasil, acha-se hoje limitado a algumas phrases, como sair em terra, cair no laço; cfr. Moraes, Dicc., s. v., onde se citam outros exemplos classicos: passou em Africa, sairem os Mouros na ilha. São tudo exemplos em que em latim se empregaria in com accusativo. O português moderno, com as excepções que citei, e alguma outra que não me occorra, rejeita este uso, e só emprega em nas circunstancias em que em latim se empregaria in com ablativo.
b) Nas expressões «guardou na auga», v, 3 = olhou para a agoa. Cfr. lat. inspicere in speculum.
c) Na expressão «quando forom asseentados na messa», xix, 3 e 12. — Hoje dizemos assentados á mesa, exprimindo-se com a a proximidade: cfr. Epiphanio Dias, Gram. Port., § 134.
d) Depois de usar em: «husam ssempre em ellas» [em malicias], xix, 11, onde usar significa «porfiar», «ser useiro e vezeiro».
Preposição por:
a) Depois de curar: «curar por a sçiençia», i, 12 (cfr. hoje olhar por); mas na mesrna fab., l. 13, «curam d’ella».
b) Na expressão por o de Deus, xliii, 17, = por causa de Deus. Vid. a respectiva annotação.
39. Emprego dos pronomes e dos artigos:
a) Os pronomes pessoaes el, ti podem empregar-se com o valor de accusativos, sem preposição, como complementos directos: enforcariam ell, xxxiv, 15[1]; achar ty, i, 9; amar ty, lxii, 12; nom temo ty, xxii, 7. Todavia tambem se diz pleonasticamente, e com preposição, como hoje: se te a ty achasse, i, 5.
Quando em português temos de empregar hoje mim, ti, etc., como complementos indirectos, isto é, com a funcção de dativo, emprega-se pleonasticamente me, te, etc., antes, e não simplesmente a mim, a ti; no nosso texto ha exemplos do emprego de a mim, a ti, mas sem repetição pleonastica de me, te: «graças que tu fezeste a mym», viii, 14; dey vida a ty, viii, 14-15; eu fize a ty, viii, 15; «estes nom perdoam a mym», xvi, 10-11; fazes a mym, i, 5; «todalas animalias vencem a mym, xvi, 10.
O uso de mim, ti, si, isto é, das fórmas tonicas do pronome pessoal, e de el (elle), vós, etc., como accusativos é muito frequente na literatura antiga: sec. xiii, «vos ten(h)ades ele en uossa uida»[2];