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41. Emprêgo do modo infinitivo:

a) Depois de certos verbos o infinitivo ora se construe com preposição, ora sem ella:

aver: [a]uemos seer (futuro periphrastico), — cfr. § 30;

cobiiçar: cobijço de te ouuyr, xv, 8;

começar e compeçar: começou de creçer, xlviii, 10 (e outros exs. em xvii, 9); compeçou tirar e dar com ssua espada, lxii, 34; compeçarom a dizer .. e morder {no primeiro caso com a no segundo sem preposição), ix, 12;

creer: o homem cree a auer avantagem, xliii, 13;

cuidar: cuydas a brincar comigo, xviii, 7;

dever: deuemos de fazer bem, xvii, 14 (outro ex. ib., 7); deuêras a auer medo, xvii, 6 (outro ex. xix, 20); nom deuemos esperar, xvii, 10;

entender: aly lhe emtemdya de dar, xii, 9;

esperar: esperar de fazer bem, xvii, 10;

ousar: ajmda ousas de falar?, ii, 20;

prometer: prometeo de lhe dar ssaude, viii, 8.

b) Infinitivo regido de preposição a servir de sujeito: «a mym praz mays de comer trijguo .. que gallinhas», xii, 23. — Este uso, de que ha mais exemplos em português antigo, é raro em português moderno, onde porém se encontram estes exemplos: «convem a saber», «custa a crer», «custou-me a ganhar». Noutras lingoas romanicas é elle corrente: il me reste de (sujeito logico).

c) Na seguinte expressão «feria o seruo ssem seu mereçer», xxxvi, 6-7, o infinito está substantivado e precedido do pronome possessivo = «sem seu merecimento», i. é, «sem elle o merecer». Cfr. sem lh’o merecer, ii, 28, e ssem sseus mereçimentos (= sem estes lh’o merecerem), xxxi, 17.

42. Emprêgo do participio:

a) Exemplos de participio absoluto em que o sujeito vem anteposto ao verbo, contrariamente ao uso moderno[1]: «e elle morto, morreram os paes» xli, 24; «e as palavras dictas», xii, 28 (a par de «e ditas as palavras» xxv, 12), «ell depenado partio-sse» xxi, 7.

b) No seguinte exemplo, o participio do presente exprime circunstancia de tempo, e vem acompanhado de preposição, por o verbo subordinante exprimir sentença: «nós ssenpre ssosteemos

  1. Cfr. Epiphanio Dias, Gram. port., § 249-obs.