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A linguagem do Fabulario ou O Livro de Esopo, é sensivelmente semelhante, embora talvez um pouco posterior, á dos textos contidos no Cod. Alcobacense n.º 266, publicados pelos Srs. J. Cornu[1], Vasconcellos Abreu[2], Otto Klob[3] e J. J. Nunes[4]. Todos elles são do sec. xiv. Quem os ler, encontrará quasi a mesma grammatica, o mesmo estylo, o mesmo vocabulario que no nosso. Por exemplo[5]: a comê’-o, corresponde comeos at 23, rrecebias t 256; a engratidõoe viii 23, corresponde sobigidõe j 7; a som (soom), 1.ª pess. de seer, corresponde som (a par de sam) t 261, soom at 7, j 8; á 3.ª pess. pl. pret. em -om corresponde -om em t, -om e em at, -am e -om em a, em j; á 2.ª pess. pl. -des corresponde a mesma terminação em todos os outros textos; a estávees corresponde ssemelhavees at 3, semelhavees j 11, donzees a 6.

Alguns d’estes phenomenos são communs a textos posteriores, por exemplo ao Leal Conselheiro, escrito entre 1428 e 1438; mas outros já não existem nessa data, por exemplo a terminação -des dos verbos, que no Leal Conselheiro está syncopada (podelloees, compraaes)[6].

Se compararmos agora O Livro de Esopo com a Demanda do santo graall[7], que é dos meados do sec. xiv, observaremos que este texto, a par de phenomenos communs ao nosso, como mostrei no estudo da Grammatica e do Vocabulario, apresenta alguns que, por serem mais archaicos, não apparecem n-O Livro de Esopo, por exemplo, al de meo 69, migo 78, chus 80, sya (imperf. de ser) 6,

  1. Anciens textes portugais, Paris 1882 (extr. do t. xi da Romania).
  2. Lenda dos santos Barlaão e Josafate, Lisboa 1898. — Este trabalho devia intitular-se Vida do honrrado Iffante Josaphat, pois é assim que começa o texto. — Cfr. sobre elle Epiphanio Dias in Zs. für romanische Philologie, xxvii, 465 sqq.
  3. A vida de Sancto Amaro, Paris 1901 (extr. do t. xxx da Romania). — Este trabalho devia intitular-se Conto de Amaro, pois assim começa o texto.
  4. Historia do cavalleiro Tungullo, in Revista Lusitana, viii, 249 sqq. — Outra redacção d’este texto, contida no Cod. Alcobacense n.º 244, foi publicada pelo Sr. F. M. Esteves Pereira na mesma Revista, iii, 101 sqq.
  5. Abreviaturas que adopto: at = Anciens textes, j = Josaphat, a = Amaro, t = Tungullo.
  6. Vid. o meu artigo «Fórmas verbaes arcaicas no Leal Conselheiro, publicado in Mélanges Chabaneau.
  7. Ed. de Reinhardstoettner, Berlim 1887.