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O autor do Fabulario diz em latino, em vez de em latim, por ter traduzido á letra o original de Burley: in latinum. — L. 6) Rromulo. Já a cima fallei da collecção medieval de fabulas attribuida a Romulo. Este nome, como Hervieux mostrou[1], deve ser supposto, embora de data muito antiga; em todo o caso, tanto no nosso Fabulario, como no Liber de Burley que lhe serviu aqui de base, e noutros tratados da idade-media, representa realmente, para o espirito dos respectivos autores, um verdadeiro individuo, traductor de Esopo. — L. 13) frores. A comparação da excellencia de uma doutrina com flores foi sempre predilecta aos tratadistas. Tambem D. Duarte (sec. XV) no Leal Conselheiro, prologo, p. 7 da ed. de Roquete[2], diz: «Prazermia que os leedores deste trautado tevessem a maneira da abelha, que passando per ramos e folhas, nas flores mais costuma de pousar, e dally filha parte de seu mantimento». No Labyrintho de Eberardus, natural de Bethune (Artois), sec. XIII, lê-se este distico:

Aesopus metrum non sopit: fabula flores

Producit; fructum flos parit; ille sapit.[3]

« .. ces deux vers rappellent les idées répandues dans le prologue

» des fables en vers élégiaques. La glose d’un ancient ms. porte ces

» mots: Ysopus est planta; sed Aesopus dat bona verba»[4][5].

Fab. i.L. 4) a quall. Hoje diriamos que; mas o mesmo modo de dizer se encontra no Prologo: «este auctor viuia o quall se chama Esopo». — L. 9) achar ty. Vid. na secção grammatical o capitulo da Syntaxe.

Fab. ii.L. 24) buscar cajom contra rrazom. Sentença rhythmica, especie de adagio.

Fab. iii.L. 12) Dom velhaco, aqui morreredes. No primeiro dialogo da rã com o rato, aquella trata este familiarmente por tu, para o captar; agora, como vae segura de o fazer morrer, trata-o ironicamente por dom velhaco, e chama-o por senhor, na 2.ª pessoa do plural.

  1. Les fabulistes, I (2.ª ed.), 293-305.
  2. Paris, Aillaud, Monlon & C.ª, 1854. — Quando neste trabalho citar o Leal Conselheiro, entenda-se que cito sempre esta edição.
  3. Tradução do latim: Os versos de Esopo não aborrecem: a fábula produz flores, as flores geram fruto; ele é sabio.
  4. Tradução do latim: O livro de Esopo é uma planta; mas Esopo dá boas palavras.
  5. Roberto, Fables inédites des XIIe, XIIIe et XIVe siècles, t. I, Paris 1825, p. LXXXIV, nota.