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Fab. xxiv.L. 2) que lhe deuia muytos dinheiros depende de acusou. Hoje dizemos mais vulgarmente de que. — L. 3) jnocente do que ho lobo acusava = «innocente d’aquilo de que o lobo a accusava». Syntaxe condensada. Cfr. o meu opusculo O texto dos Lusiadas, Porto 1890, p. 46. — L. 11-12) Ha ás vezes desleixo de estylo, como aqui: aqueles que ssom .. e aquell que he. Esperar-se-hia o mesmo numero (singular ou plural) nas duas frases.

Fab. xxv.L. 9) fazias comtrayro. A mesma expressão se lê em xxxvi, 2: fazia comtrayro do que lhe sseu padre emssynaua. A palavra contrayro tem quasi a funcção de adverbio. — L. 14) o seruiço que sse faz de uoomtade, aquelle he bem fecto. Redundancia do pronome aquelle. De analogo uso em latim trata Madvig, Gram. latina (trad. port.), § 489-a.

Fab. xxvi.L. 4) pera se matar com ell. Vid. Vocabulario.

Fab. xxvii. — Esta fabula vem tambem contada em Manoel Bernardes, Nova Floresta, como já se disse no Vocabulario s. v. «vurmo». Bernardes colheu-a em Mayolo, Dias caniculares'', t. v, dialogo 1, fl. 791; a fonte é Aulo Gellio, Noctes Atticae, V, xiv, que diz tê-la extrahido da Hist. de Apion Plistonices, Aegyptiacorum lib. v. O heroe em Bernardes é Androdo, na litteratura classica é Androclus (houve substituição graphica de cl por d).

Fab. xxviii.L. 8) sabe por certo = tem como certo (por certo é nome predicativo). — L. 9) tocar teu pulso, i. é, «tomar-te o pulso». Em latim: venam tangere e venarum pulsum attingere.

Fab. xxix.L. 3) andaua loução, i. é, «caminhava (ia) loução». — L. 14) nom quero em ty luxar os meus couçes. Expressão analoga se lê em xi., 8. — L. 29) uãas glorias. No Leal Conselheiro ha tres capitulos sobre vangloria (capp. xii a xiv), onde D. Duarte cita os Estatutos de S. João Cassiano e as Collações dos SS. Padres. Cfr. p. 84: «a Nosso Senhor despraz .. a vãa gloria, que muyto claramente nos mostra taaes abatymentos nas cousas de que nos queremos gloriar e gabar, que bem poderemos conhecer como elle quer de todos nossos bẽes a el seerem dados louvores».